Introdução: No fígado imaturo do recém-nascido (RN) a colestase neonatal pode ocorrer em associação a um ou vários fatores de risco, sem patologia subjacente. Esta condição denomina-se colestase neonatal multifatorial transitória. Prematuridade, restrição de crescimento intra-uterino ou situações que levam a maior estresse oxidativo (isquemia, comprometimento hemodinâmico, infecções, intervenções cirúrgicas, pausa alimentar, alimentação parenteral e fármacos) estão relacionadas com sua gênese. Objetivo: Avaliar a evolução da colestase neonatal multifatorial quanto a sua duração, assim como verificar as alterações médias das enzimas hepáticas, aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT), e canaliculares, gamaglutamiltransferase (GGT), e da bilirrubina direta (BD), comparando ainda a duração da colestase nos pacientes que fizeram uso do ácido ursodesoxicólico (UDCA) com o tempo de evolução dos que não o fizeram, no intuito de caracterizar melhor essa condição clínica e de chamar a atenção do profissional de saúde sobre sua natureza transitória, evitando dessa maneira a solicitação de exames mais específicos, onerosos e desnecessários. Método: Estudo transversal, com 32 pacientes de zero a 90 dias que apresentavam colestase neonatal multifatorial, acompanhados no ambulatório de hepatologia pediátrica do IMIP, no período de agosto de 2016 a agosto de 2017. Os dados foram coletados através de consulta ao prontuário. A análise estatística dos dados foi realizada por meio do software “R” v.3.3.1. Resultados: A maioria dos pacientes era do sexo masculino (59,38%). A idade média de início da colestase foi de 35,5 dias, e a de término de 171,3 dias. A média de duração da colestase foi de 135,8 dias. O valor médio da BD do início e término da colestase foi de 6,05 e 0,29 mg/dL, respectivamente. Com relação às enzimas hepáticas e canaliculares, as médias dos valores de AST, ALT e GGT do início foram 194,7, 123,8 e 387,9 U/L, e de término 69,1, 56 e 121,6 U/L, respectivamente. Apenas 11 pacientes fizeram uso do UDCA. O tempo médio de duração da colestase neste grupo foi de 114,1 dias. Aqueles que não usaram o UDCA, 21 pacientes, apresentaram icterícia colestática por um tempo médio de 147,1 dias. Conclusão: Diante dos resultados obtidos com a análise retrospectiva dos pacientes com diagnóstico de colestase multifatorial, chama a atenção a natureza transitória e benigna desta condição clínica, com duração média da colestase em torno de 136 dias de vida e declínio importante dos níveis das enzimas hepáticas e canaliculares após resolução do quadro