A fisioterapia foi legitimada como profissão no Brasil em 1969, tornando-se uma das 14 profissões regulamentadas no campo da saúde. Moldada pelo modelo biomédico de atenção e pelo discurso do profissionalismo como forma normativa e ideológica de organização do trabalho, a profissão vem traçando seu caminho em busca de uma autonomia profissional que garanta uma identidade profissional ancorada na expertise cientificamente orientada.Neste contexto político, econômico e social, a autorregulação profissional promoveu uma organização interna em duas esferas, a Institucional e a Interacional. A primeira, construída por meio de análise documental das resoluções do COFFITO; a segunda, por meio de estudo transversal com fisioterapeutas no estado de São Paulo, Brasil (n = 2.684). Os achados sugerem que a Fisioterapia Institucional defende uma posição protegida no mercado de trabalho com base nas credenciais qualificadas, treinamento e habilidades especializadas, além do compromisso dos fisioterapeutas em realizar um bom trabalho utilizando elementos instrumentais do discurso do profissionalismo. Esta postura constrói uma representação social tecnicista na profissão. A Fisioterapia Interacional, embora acrescente uma perspectiva altruísta e mercantilista à representação social tecnicista, segue reafirmando a centralidade da ciência especializada como uma forma de sucesso profissional. O discurso do profissionalismo e do modelo biomédico modela a ação profissional da Fisioterapia ao combinar modos de agir tecnicistas, morais e mercantilistas, o que pode ser visto como impedimento da efetiva autonomia profissional. A construção de uma abordagem dialógica para o surgimento de um novo discurso do profissionalismo na Fisioterapia brasileira pode ser uma possibilidade de ruptura com o modelo biomédico, o que levaria a profissão a compreender o seu papel no campo da saúde a partir de uma perspectiva crítica e reflexiva, como parte da autonomia e da identidade profissional do fisioterapeuta.