ResumoRecentemente, a pesquisa com jovens em situação de rua tem dedicado mais atenção aos processos de socialização que estruturam seu cotidiano, aos sentidos de suas práticas sociais, levando à necessidade de novos métodos, dentre os quais a alternativa etnográfica. Relata-se aqui o processo de entrada em campo numa pesquisa etnográfica -realizada em Natal-RN, com grupo de pessoas em situação de rua (aproximadamente 11), jovens, a maioria com idade entre 16-18 anos -, para destacar a complexidade desse processo. Sua negociação determina muitos deslocamentos e exige flexibilidade do pesquisador, sob várias demandas de formas de participação e envolvimento junto ao grupo. Negociações de sentido, nessas situações, constituem desafio à pesquisa etnográfica com essa população; também novas possibilidades de invenção técnica e experiência ética. Palavras-chave: Jovens em situação de rua; Etnografia; Entrada em campo; Ética.
AbstratcRecently, researches with street children have dedicated more attention to the socialization processes which structure their daily lives and to the meaning of their social practices, leading to the need of new methods as the ethnographic alternative, for instance. This paper reports the field access process occurred in an ethnographic research -performed with a group of about 11 street children, aged between 16 and 18 years old -in order to emphasize the complexity of that process. The access negotiation determines many displacements and requires researcher's flexibility, under several demands concerning the form of participation and involvement with the group. Negotiations of meaning, in such situations, are a challenge for ethnographic researches done with the mentioned population, besides offering new opportunities for technical invention and ethics experience. Keywords: Street children; Ethnography; Access; Ethics. O espaço das ruas é um dos elementos mais diversos entre os que povoam o imaginário popular de qualquer sociedade urbana, tornado objeto de múltiplos processos de significação, e como tal, também um ambiente muito rico nas possibilidades experienciais que oferece. Entre essas possibilidades, há muito tempo é conhecida aquela em que as pessoas tornam a rua o lugar onde vivem ou passam a maior parte de seu tempo, o que tem sido visto como algo nocivo às sociedades. A rejeição da presença de jovens nas ruas é um índice disso.Desde o início da década de 80, a presença de jovens e crianças nas ruas das grandes cidades tem sido investigada sob a demanda de conhecimento para a produção de políticas públicas, para dar solução a esse problema. O tema central e caracterizador desses estudos relacionou-se, até meados da década de 90, com a suposição de que crianças e jovens em situação de rua estariam fora de um padrão de vida ou de condições desenvolvimentais normais, condição presumidamente provocada pela desorganização e desagregação familiar comum entre as classes mais pobres. Essa mesma demanda social de conhecimento levou diversas organizações internacionais a um ímpeto investig...