O endividamento revela-se como um fenômeno multifacetado, cujas repercussões extrapolam a esfera econômica, sendo responsável por forjar as subjetividades individuais, os modos de expressão e as práticas cotidianas dos sujeitos. Destarte, o presente estudo teve como objetivo apreender a representação social do constructo do endividamento para consumidores pertencentes à baixa renda, buscando identificar os significados que a ela subjazem. Para a obtenção dos propósitos dessa pesquisa, foram realizadas 194 entrevistas estruturadas de curta duração, analisadas a partir da técnica de evocação livres de palavras e do método Alceste mediante o uso do software IRAMUTEQ. Como resultado, verificou-se que o endividamento se revela enquanto fenômeno multifacetado com uma multiplicidade de atributos que concorrem à representação do seu conceito, transcendendo a compreensão puramente racionalista da lógica econômico-financeiro. Sucintamente, os sujeitos estruturam sua representação do endividamento em dois polos organizadores principais, expressados através de um elemento estrutural – a qual possui origem no arranjo socioeconômico geral – e de seu inter-relacionamento ao contexto individual. Nesse sentido, o fenômeno do endividamento apresenta repercussões subjetivas aos sujeitos, refletidas na organização das práticas do cotidiano, gerando, assim, um conjunto de obrigações financeiras individualizantes que resultam, sobretudo, em consequências emocionais prejudiciais aos mais pobres.