“…Buscamos explorar, nas oficinas e grupos focais realizados, as seguintes questões: i) como o modelo de trabalho (objetivo e subjetivo) de ACS se apropria das características 'naturalizadas' como femininas com a finalidade de explorar uma força de trabalho composta majoritariamente por mulheres, que devem 'cuidar' da saúde do 'outro' (da família e, agora, também da comunidade); ii) as implicações destas representações ideológicas e, correlatamente, desses processos de trabalho, sobre a saúde física e mental destas profissionais; e, por fim, iii) na medida em que o trabalho reprodutivo feminino, por causalidades históricas, não é visível e nem socialmente valorizado, como as próprias ACS, além dos demais profissionais de saúde e da população assistida, atribuem valores e sentidos éticos e políticos a este trabalho profissional; e, caso afirmativo, quais são, ou seja, como se percebem enquanto 'trabalhadores/as', no sentido de um ethos, uma identidade de classe (David et al, 2010). Na perspectiva interdisciplinar proposta, a temática de gênero dialoga com os demais eixos do projeto ao postular que o trabalho de ACS está articulado a políticas sociais, nacionais e internacionais, que se apropriam da força de trabalho feminina dos países periféricos para a execução do trabalho (de baixo custo e valor social) da reprodução social, naturalizado como 'vocação materna' 7 (Santos, 2010;Giffin, 2002;Brito, 2000;Laurell, 2000;Neves, 2000). Decorrente desta questão, os vínculos precários e instáveis de trabalho, característicos do 'emprego feminino' nestes contextos, não permitem uma demarcação nítida entre horário de trabalho contratado e vida sociofamiliar, o que gera sobrecarga de trabalho para estas/es trabalhadoras/as, com possíveis repercussões sobre sua saúde (Brito, 2000;Oliveira, 2000).…”