ResumoEste estudo teve como objetivo perceber quais as influências que originam a escolha da carreira em Psicologia e verificar se o trauma ou situações adversas contribuem para essa mesma escolha. A amostra incluiu 204 sujeitos com formação em Psicologia que foram divididos em dois grupos, os da área Clínica e da área Não Clínica. Como descrito por Flannery (1999), o trauma psicológico diz respeito ao "impacto de um (ou mais) acontecimento(s) crítico(s) no funcionamento psicológico ou biológico de um indivíduo". Considerando que as memórias de acontecimentos emocionais são uma parte importante da nossa história de vida e identidade, algumas destas memórias podem continuar a provocar sofrimento ao longo da existência (Bluck & Habermas, 2000; McAdams, 2001; Pillemer, 1998; Singer & Salovey, 1993 citados em Matos, Pinto-Gouveia & Gomes, 2010. Muitos investigadores, nesta área, afirmam que as experiências traumáticas geram um desequilíbrio acentuado na mente das vítimas, deixando os esquemas mentais destas danificados. Este processo torna as experiências traumáticas difíceis de processar e, por sua vez, estas tornam-se pobremente integradas nas auto-narrativas do sujeito (Horowitz, 1986; Van der Kolk & Fisler, 1995, citados por Bluck, 2003. No entanto, Berntsen e Rubin (2006, 2007) desenvolveram a teoria da Centralidade do Evento, na qual defendem exatamente o oposto: que os desvios nos esquemas mentais não levam a memórias pobres ou fragmentadas. Pelo contrário, em vez de se encontrarem pobremente integradas, as memórias traumáticas (devido ao seu impacto emocional), em muitos casos, ficam altamente acessíveis e podem formar um ponto de referência cognitivo para a organização do conhecimento autobiográfico, com um impacto contínuo na interpretação de experiências não traumáticas e expetativas para o futuro, e este parece ser o ponto de partida para explicar a forma como eventos traumáticos afetam a memória e o conhecimento.Mesmo assim, pessoas que sofrem eventos negativos parecem capazes de processar satisfatoriamente esses eventos, a nível emocional e cognitivo. Por vezes, essas ocorrências relacionam-se com escolhas bem adaptadas.A literatura tem sugerido que, por vezes, terapeutas seguem as suas profissões na tentativa de resolver problemas psicológicos pessoais (Guy, 1987; Henry, Sims & Spray, 1971; Sussman, 1992 citados em Murphy & Halgin, 1995, para satisfazer necessidades próprias não conhecidas ou não resolvidas (Guy & Liaboe, 1986; Guy, Poelstra & Strak, 1989 citados em Murphy & Halgin, 1995, para resolver questões relativas aos problemas nas suas famílias de origem (Elliot & Guy, 1993; Fussell & Bonney, 1990; Guy, Tamura & Poelstra, 1989; Henry, Sims & Spray, 1971; Liaboen & Guy, 1987; Racusin, Abramowitz & Winter, 1981; Sussman, 1992 citados em Murphy & Halgin, 1995, ou pela necessidade de dar continuação ao papel de "cuidador" que tinham na família de origem (DiCaccavo, 2002). Neste âmbito, os objetivos desta investigação passam por: (1) aceder a fatores que estão na base da escolha da ca...