A literatura de marketing diverge sobre os benefícios que o relacionamento de consumidores de baixa renda com empresas e governos pode trazer. Alguns autores argumentam que, se, de um lado, empresas podem melhorar a qualidade de vida desse público, ao dar acesso a bens e serviços e, de outro lado, os governos podem protegê-lo das falhas de mercado, oferecendo serviços públicos de qualidade. Outra corrente, por sua vez, discute vantagens obtidas pelas empresas à custa desses consumidores e governos que não os protegem das ações empresariais. Tais perspectivas, entretanto, não são analisadas a partir da ótica do consumidor de baixa renda e, assim, não demonstram a forma como as ações empresariais e governamentais são recebidas por eles, gerando dúvidas se esse grupo obtém ou não benefícios de empresas e governos. O presente trabalho relata a opinião de consumidores de baixa renda, com o objetivo de entender sua visão sobre as relações trocadas com empresas e governos. Para isso, foram realizadas 27 entrevistas em profundidade com integrantes desse público. A partir dos dados, é possível entender que, para os entrevistados, a relação com empresas e governos é marcada por uma hierarquia de poder e que a posição inferior em que se encontram não fornece perspectiva e nem força para mudar tal fato. Esse grupo não obtém a prometida melhora de vida em sua relação com empresas ou governos e indica um distanciamento entre as partes em seus relatos: eles lá e nós aqui.