O estudo recente realizado em Trás-os-Montes oriental, tendo em vista a caracterização sedimentológicae geomorfológica e o enquadramento estratigráfico dos depósitos cenozóicos, permitiu individualizar umconjunto de unidades litostratigráficas, entre as quais a Formação de Aveleda que estabelece a transiçãoentre o preenchimento neogénico das depressões e o entalhe fluvial quaternário (PEREIRA, 1997). Esta unidadecorresponde a uma etapa independente gerada na sequência de uma ruptura sedimentar, relacionadaquer com condições tectónicamente activas quer com a alteração das condições climáticas. Os sedimentos,de cor avermelhada, ocorrem em pequenos afloramentos onde são predominantes as litofácies conglomeráticas,com clastos que revelam maioritariamente um transporte reduzido e fontes alimentadoreslocais. Os clastos são suportados numa matriz lutítica ilito-caulinítica abundante. Litofácies e arquitecturados depósitos sugerem o predomínio de derrames do tipo debris flow e corpos do tipo leque aluvial.Também a caracterização granulométrica e a mineralogia da fracção argilosa constituem bons critérios deidentificação desta unidade, em face da abundância de fracção lutítica nas litofácies conglomeráticas earenosas e da frequência de ilite e caulinite. A Formação de Aveleda ocorre em dois domínios geomorfológicosdistintos: em domínio tectónicamente pouco activo, sobre uma importante superfície erosivacorrespondente à superfície da Meseta Ibérica, onde a modificação das condições relativamente quentes ehúmidas do Pliocénico, para condições menos quentes e maior sazonalidade, deve ter constituído o factormais decisivo; no contexto do acidente tectónico de Bragança-Vilariça que limita a ocidente aquela superfíciede erosão, os derrames na forma de leques aluviais constituíram a resposta essencialmente a umaruptura tectónica, com reactivação das escarpas de falha. A Formação de Aveleda correlaciona-se comoutros sedimentos descritos na Península Ibérica que sucedem à colmatação das bacias e depressões ibéricase posterior desenvolvimento de uma fase importante de erosão da Meseta. De acordo com essascaracterísticas e modelos propostos para outras regiões da Península Ibérica, admite-se que esta etapasuceda a uma ruptura tectónica com cerca de 2.0 Ma e com influência significativa da crise climáticareferida a 2.5 Ma e condições posteriores, incluindo a nova crise que marca formalmente o início doQuaternário a 1.8 Ma.