Cad. Saúde Colet., 2014, Rio de Janeiro, 22 (4): 351-8Resumo O acesso universal aos serviços de saúde representa um processo complexo de inter-relações. Em um sentido mais amplo, incorpora dimensões que passam por aspectos econômicos, técnicos, políticos e simbólicos. Para doenças negligenciadas, como a hanseníase, por exemplo, reverte-se em maiores desafios. Este estudo objetivou caracterizar o acesso aos serviços de saúde por pessoas atingidas pela hanseníase em pós-alta de poliquimioterapia (PQT) nos municípios de Fortaleza e Sobral. Estudo transversal descritivo que incluiu 10% da população que recebeu alta entre 2003 e 2005 (304 pessoas), com caracterização sociodemográfica e clínica, bem como exploração de modalidades e contextos relativos ao acesso no pós-alta. A população era em sua maioria masculina (58%), com alta proporção de incapacidades físicas (34%) e estados reacionais (37%). A abordagem biomédica dos estados reacionais contemplou, em grande parte, a busca e a oferta de atenção nesse período. O acesso à atenção pós-alta foi frágil principalmente em intervenções como cirurgias reabilitadoras e atenção psicológica. Foram identificadas importantes lacunas em termos da operacionalização da atenção às pessoas atingidas no momento do pós-alta em ambos os municípios, o que traduz a relativa negligência em relação à hanseníase como condição crônica e o consequente distanciamento para a abordagem integral a essas pessoas no Sistema Único de Saúde (SUS).Palavras-chave: hanseníase; acesso aos serviços de saúde; atenção à saúde.
AbstractUniversal access to health services represents a complex process of inter-relationships between users and health services. In a broader sense it includes economic, technical, political and symbolic aspects. For neglected diseases such as leprosy, this is a major challenge. This cross-sectional study aims to characterize access to health care services for people affected by leprosy after release from treatment in the cities of Sobral and Fortaleza. The study included a representative sample 10% of those concluding treatment from 2003 to 2005 (304 cases). Participants were characterized regarding socio demographic and clinical variables and access to health services after release from treatment. The study population was mostly male (58%), physical disabilities (34%) and with leprosy reactions (37%). The biomedical approach of leprosy reactions contemplated in large part to search for and supply of care in this period. The access to care after discharge was particularly weak in rehabilitative interventions such as surgery and psychological attention. We identified important gaps in the operationalization of attention to people affected after release from treatment in both cities. The date also shows the negligence of leprosy as a chronic condition and the resulting difficulties regarding on integrated distance to the comprehensive approach to people with leprosy after release from treatment in the Unified Health System (SUS).