RESUMOCom base em modelos matemáticos e estudos experimentais estima-se que as medidas da PIO sejam linearmente hiperestimadas em córneas com maior espessura e menor ceratometria por meio de tonometria de aplanação de Goldmann (TAG). Entretanto, tal influência se dá de uma maneira mais complexa que a prevista por estes parâmetros geométricos, sendo diretamente relacionada com propriedades biomecânicas. O sistema de não contato ORA (Ocular response analyzer -Reichert) permite estudo das propriedades biomecânicas juntamente com a medida pressórica calibrada para a TAG e a compensada da córnea. Adicionalmente, o estudo tomográfico com reconstrução tridimensional do mapa paquimétrico caracteriza a córnea de forma mais completa que a ceratometria anterior e espessura central. Neste artigo, relatamos um caso de dor ocular, fotofobia e baixa visão, 28 dias após cirurgia de facoemulsificação com implante de lente intraocular sem complicações em paciente feminina de 81 anos. Na primeira visita da paciente, enquanto a TAG era de 16 mmHg, o valor da PIO compensada da córnea (PIOcc), obtido com o ORA, era 25,6 mmHg. A histerese e fator de resistência da córnea eram baixos, 4,1 e 6,1mmHg respectivamente, apesar da paquimetria central ser relativamente mais elevada, de 601 micra. O padrão de distribuição espacial da espessura era atenuado, compatível com edema corneano que era observado também por meio das imagens de Scheimpflug (Pentacam). Com base nestes dados, foi feito diagnóstico de quadro de uveíte hipertensiva, associado à edema corneano, instituindose tratamento tópico com combinação fixa de maleato de timolol e brimonidina associado ao acetato de prednisolona. Três semanas após, a paciente apresentou-se com grande melhora da acuidade visual, resolução do edema corneano, e dos sintomas, normalizando os parâmetros biomecânicos, geométricos da córnea e de PIO.