Desde a sua emergência, uma das principais missões da investigação feminista tem sido desenvolver um projeto interdisciplinar de análise crítica dos pressupostos epistemológicos e dos princípios e procedimentos metodológicos da ciência dita mainstream. É notório e inegável que, em muitos países e áreas de estudo, esta crítica feminista gerou ao longo das últimas décadas inovações importantes: dela têm resultado não só novos conceitos e métodos de investigação, mas também propostas substanciais e inovadoras de reestruturação dos paradigmas dominantes de concetualização do conhecimento científico. Como argumenta Terry Threadgold, «[n]ão há uma única disciplina nas Humanidades ou nas Ciências Sociais que não tenha sido afetada de alguma forma pela reflexão e investigação feminista dos últimos 30 anos » (2000: 46).No entanto, este projeto feminista de crítica metodológica e epistemológica não é linear nem consensual e, apesar dos seus inegáveis avanços, permanece inacabado. Com a publicação deste dossiê temático, a ex aequo propõe-se criar um espaço internacional e interdisciplinar para debater o pensamento feminista sobre epistemologia e metodologia 3 . O dossiê procura assim contribuir para o aprofundamento de um conjunto de discussões que nos parecem fundamentais por três razões, sobre as quais nos debruçamos seguidamente.
O Estatuto e (Falta de) Reconhecimento da Crítica Epistemológica e Metodológica Feminista em PortugalEm Portugal, autoras/es feministas têm feito um grande esforço de desconstrução da produção científica nacional em diferentes disciplinas, e de criação de epistemologias e metodologias feministas (disciplinares ou interdisciplinares) inspiradas em propostas internacionais 4 adaptadas ao contexto português. Veja-se, ex aequo, n.º 29, 2014, pp. 9-21
INTRODUÇÃO. EPISTEMOLOGIAS E METODOLOGIAS FEMINISTAS EM PORTUGAL: CONTRIBUTOS PARA VELHOS E NOVOS DEBATES