A retórica mantém uma relação axiomática com o gênero dramático trágico. No contexto imperial de Roma, as declamações e os dramas de Sêneca, o Jovem são exemplos profícuos dessa vinculação intergenérica. Enquanto a dramaturgia senequiana parece ter se servido de elementos intrínsecos da prática escolar na ornamentação dos discursos e na construção dos caráteres dos personagens, a retórica escolar dá-nos indícios de que se valeu não apenas dos mitos trágicos para a elaboração de alguns temas, mas também de certos personagens e suas características típicas. Esta tese propõe mapear o avizinhamento entre declamação e drama trágico com a finalidade de averiguar uma possível circulação de histórias, personagens típicos e de mitemas na composição das querelas declamatórias, uma vez que se notam certos modelos de teatralidade trágica das obras senequianas nas Declamationes Minores de Pseudo-Quintiliano e nos Excerpta Declamationum de Calpúrnio Flaco. Para a realização deste estudo, buscaram-se os mitos e princípios filosóficos utilizados na composição das declamações a partir de um recorte que nos ajudou a identificar não apenas mecanismos de construção textual, mas também certa circularidade de temas que podem dar face e voz à herança filosófica e mito-poética romana. Este trabalho, regido por uma análise literária, foi conduzido por meio das controvérsias calpurnianas e de 13 “Declamações Menores”, que apresentam alguma semelhança temática com aquelas de Calpúrnio Flaco. Além destes corpora, valemo- nos também de algumas das “Cartas a Lucílio” (Ad Lucilium epistulae morales) e das tragédias senequianas “As Fenícias” (Phoenissae), “Agamêmnon” (Agamemnon), “As Troianas” (Troades), “Édipo” (Oedipus), “Fedra” (Phaedra), “Hércules Furioso” (Hercules Furens) e “Tiestes” (Thyestes). O estudo das declamações com o teatro senequiano nos permite demonstrar que, dadas as qualidades literárias das declamações, não é coincidência que elas tenham influenciado e sido influenciadas pelo drama latino.