IntroduçãoO aprofundamento dos processos de globalização das últimas três décadas tem alterado significativamente as relações entre o "eu" e o "outro", o local e o global e, mais importante ainda, entre o espaço e a sociedade (Gille e Riain, 2002;Lechner, 2009). Daí resultam fenômenos sociais ligados a múltiplos lugares e que não dependem de uma relação estrita e territorializada com a geografia (Boccagni, 2011; Gupta e Ferguson, 1992;Robertson e White, 2003), constituindo-se de modo fluido, sob a forma de fluxos de pessoas, bens e culturas. A intensificação desses fluxos internacionais equivale, aliás, à expressão paradigmática da globalização mais recente e de um mundo em que, apesar de assimétricas, as mobilidades representam uma importante marca na generalidade das sociedades (Urry, 2007). Sua influência faz-se sentir, de forma acentuada e transversal, em praticamente todos os domínios do cotidiano, seja nos de maior exposição e densidade social, seja nos que remetem mais para a vida privada e a intimidade. É no quadro desse complexo sistema global de fluxos que emergem processos de mudança social permitindo às pessoas posicionamentos mais reflexivos diante da tradição e dos estilos de vida -"cosmopolitismo reflexivo" (Beck, 2000a) -e, simultaneamente, a imaginação de geografias e destinos alternativos para seus trajetos biográficos.Partindo da perspectiva de um world in motion (Inda e Rosaldo, 2002), embora não esquecendo que nem todos possuímos os mesmos recursos e possibilidades para 12ArtigoSacramentoTS29n2Corrigido.indd 287