RESUMO: O crescimento recente da incidência da sífilis, principalmente nos últimos 15 anos com a emergência da AIDS, parece conduzir ao aumento dos casos atípicos observados na prática médica diária. A freqüência da co-infecção HIV/sífilis entre homossexuais masculinos em grandes centros urbanos varia entre 20 e 70%; nesses casos, com úlceras persistentes e rápida progressão para os estádios mais tardios. Dentre as complicações mais graves da doença não tratada ou mal conduzida encontrase a neurolues, que pode produzir manifestações neurológicas e psiquiátricas variadas, por vezes incapacitantes. O diagnóstico pode ser feito pela punção liquórica, pela qual se avaliam a celularidade, as proteínas e se realizam testes treponêmicos e não-treponêmicos. O exame do LCR deveria ser realizado em todos os doentes com sorologia positiva para sífilis, ou doença neuropsiquiátrica, ou oftálmica, ou terciária, ou naqueles em que a terapia falhou e nos doentes infectados pelo HIV com sífilis latente ou de duração ignorada. Entretanto, a neurolues é improvável quando o VDRL sérico estiver negativo. Nesses casos, a punção do liquor não é recomendada. Há razoável certeza quando houver síndrome neuropsiquiátrica associada com VDRL liquórico positivo.Descritores: Sífilis; Neurossífilis; AIDS; Líquido cérebro-raquidiano.
Trabalho realizado pela Equipe Técnica de Proctologia do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e Liga de Coloproctologia da
INTRODUÇÃOO crescimento recente da incidência da sífilis, principalmente nos últimos 15 anos com a emergência da AIDS, 1 parece conduzir ao aumento dos casos atípicos observados na prática médica diária. Sendo assim deveremos estar preparados para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. 2 A sífilis anal primária é doença comum dos praticantes do sexo anal receptivo. 3 É causada pelo espiroqueta Treponema pallidum e tem a úlcera, geralmente única, que surge no ânus ou no canal anal, duas a seis semanas após o contato, como primeira manifestação. Todavia, essas lesões têm morfologia variada e a suspeição deverá ser feita nos praticantes do sexo anal que tenham úl-ceras perianais. 4 As feridas não tratadas cicatrizam espontaneamente em três ou quatro semanas. 4 Em mais duas a oito semanas poderá ocorrer o secundarismo sifilítico e, em 10 a 20% dos casos, aparecerão lesões elevadas nas áreas de contato (margem anal e sulco interglúteo), chamadas de condilomas planos. 5 Sua incidência vem crescendo nesse grupo de doentes em muitas cidades norte-americanas, com relatos similares no Canadá e na Europa. Em San Francisco, por exemplo, sua ascensão tem sido particularmente súbita e acompanhada pelo aumento na incidência da neurolues. 6 Esse nome se dá à afecção do sistema nervoso central (SNC) pelo T. pallidum, podendo ser assintomática ou produzir manifestações clínicas variadas. 7 A freqüência da co-infecção HIV/sífilis entre homossexuais masculinos em grandes centros urbanos varia entre 20 e 70%. 8 Nesses casos, a afecção mostra aspectos atípicos, com úlceras persistentes e rápida progressão...