IntroduçãoMeu artigo visa analisar uma transformação radical que se vem efetuando nos sistemas de desigualdade em curso nas sociedades avançadas: a emergência do conhecimento como princípio de estratificação. Para introduzir o tema, gostaria de fazer três observações. Primeiro, não há nada na história dos países industrializados da Europa Ocidental e da América do Norte que se assemelhe à experiência que viveram entre 1950 e 1985. No final desse período, a perpétua ameaça de sérias dificuldades econômicas que anteriormente pairava sobre as vidas de três quartos da população assombrava apenas um quinto das pessoas. Embora a pobreza absoluta persistisse até nos países mais ricos, o padrão de vida material da maioria da população havia melhorado de modo ininterrupto e, muitas vezes, com extrema rapidez durante esses 30 anos. Contudo, nenhuma dessas importantes melhorias refletiu-se nas concepções prevalecentes sobre a desigualdade social. Segundo, o aumento geral da riqueza privada faz com que a riqueza pública se torne cada vez menos possível ou, talvez, tenda inevitavelmente a reduzir-se (cf. Dahrendorf, 1983, p. 28). Terceiro, minha discussão não trata da emergência de uma elite cognitiva destinada a governar a sociedade avançada. Os populistas, pelo menos nos Estados Unidos, costumavam odiar os ricos; agora odeiam as elites. Em outras palavras, não trato do que políticos americanos como Bob Dole, Jack Kemp ou Dan Quayle chamam de elite cultural, os que "pensam que sabem mais do que o povo" (Kemp), ou do grupo de elite que está tomando conta da Casa Branca, como propaga Bob Dole.Passando agora ao campo das ciências sociais, meu artigo também não é uma releitura do debate de fins dos anos 50 sobre The rise of meritocracy (Michael Young) ou The new class (Milovan Djilas). Pulando uma ou duas décadas, tampouco trato da "nova classe do saber" ou da "nova aristocracia dos cérebros", como qualificou Christopher Lasch em seu último livro, The revolt of