A ligadura tubária é o método anticoncepcional mais popular no mundo 1,2 . No Brasil, 31,1% das mulheres com idade entre 15 e 54 anos estavam esterilizadas. Este número cresceu para 40,1% após dez anos, caracterizando-a como o método contraceptivo mais usado no País
3. Em São Paulo, a esterilização feminina não sofreu tal incremento e tem se mantido num patamar de pouco mais de 30% 4 . Ao lado da grande eficácia, a laqueadura tubária pode provocar efeitos colaterais, destacando-se as anormalidades do fluxo menstrual, dores, alterações no comportamento sexual e emocional 2,5 ,constituindo a chamada síndrome pós-ligadura. No entanto, a maioria dos estudos que avaliaram a evolução clínica de mulheres submetidas à ligadura tubária não evidenciou qualquer tipo de distúrbio menstrual ou apenas discretas alterações 6-8 . Os distúrbios menstruais foram descritos pela primeira vez por Willians et al.
9; neste estudo, os autores compararam 200 mulheres submetidas a ligadura tubária com 5216 pacientes não submetidas ao procedimento (1994 ginecológicas e 3222 obstétricas), durante um período de um a dez anos, e constataram que 19% das pacientes ginecológicas, 5% das obstétricas e 24% das esterilizadas apresentaram distúrbios menstruais, definidos como maior prevalência de sangramento intermenstrual e aumento no fluxo menstrual.Posteriormente, Muldoon 5 observou que 374 mulheres esterilizadas, ou 43% delas, necessitaram de tratamento ginecológico complementar, 19% de histerectomia e 6% de outras cirurgias ginecológicas. Diferentemente, Rulin et al.7 constataram que importante parcela dos distúrbios menstruais foi referida previamente à ligadura, principalmente em mulheres usuárias de contraceptivos orais combinados. Outra controvérsia relacionou-se ao tempo de aparecimento dos sintomas; assim, Kassonde & Bonnar 10 não constataram alterações menstruais até 12 meses após a ligadura, enquanto outros estudos 11,12 observaram-nas após dois anos da cirurgia. Ademais, o risco de internação hospitalar decorrente do sangramento menstrual excessivo foi duas vezes maior em mulheres submetidas a laqueadura do que nas que não foram submetidas ao procedimento 13 . Shobeiri e Atashkhoii 14 sugerem que as irregularidades menstruais após ligadura tubária são mais freqüentes em mulheres jovens e que tais distúrbios são mais freqüentes durante o período de 12 meses após o procedimento, fortemente relacionados a fatores psicológicos.Várias hipóteses tentam justificar os mecanismos envolvidos na gênese das alterações menstruais; duas são comumente relatadas: aumento da pressão na microcirculação intra-ovárica 15,16 e lesão vascular. Na lesão vascular, a hipótese mais aceita, supõe-se que ocorre comprometimento dos ramos ováricos da artéria uterina, que, ao gerar insuficiente irrigação dos ovários, pode desencadear perturbações sobre a esteroidogênese gonadal 13,17 . Além dos aspectos controversos referidos, há uma evidente escassez de estudos na literatura pertinente às alterações menstruais após ligadura tubária. Tais fatos nos motivaram a estu...