A pecuária extensiva é uma das principais causas de desmatamento e perda de biodiversidade em regiões de fronteira agrícola como o Portal da Amazônia, região Norte de Mato Grosso. A pré-disposição de agricultores em incluir árvores em pastagens depende de sua percepção positiva sobre elas, e pode subsidiar a construção de novos sistemas produtivos, que melhorem estrutural e funcionalmente a paisagem da região. Estudamos a percepção de 39 agricultores familiares, de quatro municípios da região do Portal da Amazônia, sobre os benefícios das árvores em pastagens, avaliando seu potencial para sistemas silvipastoris. Realizamos a caracterização de pastagens sombreadas, o levantamento das espécies arbóreas nativas e o registro e avaliação do conhecimento e percepção dos agricultores sobre elas. Conduzimos oficinas comunitárias para definição de espécies arbóreas consideradas chave, sua caracterização dendrométrica e levantamento bibliográfico sobre o potencial em sistemas silvipastoris. A avaliação das pastagens apontou predomínio de espécies de braquiária (Urochloa spp.) e baixa adoção de práticas de manejo. Mapeamos 1875 árvores (com densidade entre 0,29 e 45,8 indivíduos/hectare) e identificadas 129 espécies. As principais motivações dos agricultores para manter árvores nas pastagens foram o fornecimento de sombra para os animais (94,8%), melhoria do solo (69,2%) e geração de renda com sementes (25,6%). As espécies de maior interesse foram Samanea tubolosa, Handronthus serratifolius, Apeiba tibourbou, Maclura tinctoria e Platymiscium floribundum. Os resultados apontam possibilidades para o uso de espécies arbóreas nativas em pastagens, contribuindo com a reintrodução do componente arbóreo e da biodiversidade nativa em sistemas produtivos. Demonstram o potencial de sistemas silvipastoris com espécies arbóreas nativas como alternativas aos modelos convencionais de produção na região, contribuindo com uma nova forma de se compreender os sistemas pecuários e com o desenvolvimento local e regional no Portal da Amazônia.