Jornalismo narrativo em podcasting: imersividade, dramaturgia e narrativa autoral

Abstract

Esta pesquisa se desdobra a partir de quatro características do radiojornalismo narrativo em podcasting (KISHINHEVSKY, 2018): (1) A construção de uma narrativa potencialmente imersiva; (2) A emergência do narrador; (3) O uso de ganchos que remetem à dramaturgia; e (4) Uma apuração exaustiva. Tendo, então, como pressuposto o fato de que o áudio é imersivo por essência, o seguinte questionamento ilustra o problema de pesquisa: Quais estratégias utilizadas pelo narrador potencializam a experiência imersiva do ouvinte? Buscando repostas, o objetivo é olhar para a figura do narrador a fim de identificar e entender o seu lugar no que chamamos nesta tese de jornalismo narrativo em podcasting. A partir do pensamento de Aristóteles (2017) de que as personagens são, depois do enredo, o principal elemento da dramaturgia, também partimos do pressuposto que o próprio jornalismo, assim como o jornalista, compõe o quadro das personagens da história. Então, nossa hipótese é que nessas produções, o narrador vai além da retratação do ofício e da técnica ao acionar o metajornalismo, pois reforça o discurso da verdade presente nas narrativas em podcasts. Como abordagem metodológica, propomos uma adaptação à Análise Crítica da Narrativa (MOTTA, 2013a) levando em consideração a natureza e complexidade do objeto sonoro. O corpus dessa pesquisa é composto pela quarta temporada do podcast Projeto Humanos, intitulada O Caso Evandro. Como principal resultado, encontramos três principais estratégias que potencializam a experiência imersiva do ouvinte: aquelas que atuam com função estética; as que têm como função criar imagens mentais para o ouvinte através do som; e aquelas que têm como função criar laços afetivos. Assim, confirmando a hipótese, ao ser acionado pelo narrador, o metajornalismo não só vai além da retratação do ofício e da técnica, como também reforça o discurso da verdade presente nas narrativas. E, mais que isso, também se constitui como uma ponte que liga o posicionamento do narrador enquanto jornalista com uma figura humanizada, já que abre as portas para que sentimentos, como certezas e inseguranças, façam parte da história

Categorização de podcasts no Brasil: uma proposta baseada em eixos estruturais

“…O Caso Evandro, inclusive, vai ser o ponto de partida da pesquisa de Viana (2023), que defende a nomenclatura de jornalismo narrativo para as produções em profundidade que têm como base o caráter imersivo. Para a autora, a imersividade é um dos principais aspectos que permitem a fidelização dos ouvintes de podcast.…”

“…Seguindo as propostas de classificação, citadas anteriormente, por Medeiros (2006), Kischinhevsky (2018), Viana (2023), Martinez-Costa & Gárate (2019), Newman & Gallo (2019), Berry (2020), Bufarah (2021) e Martins e Fraga (2021), optamos por realizar uma observação sistemática dos 50 podcasts mais ouvidos no Spotify, Google Podcasts e Apple Podcasts. A escolha das plataformas segue a pesquisa divulgada pelo Ibope Inteligência que aponta os três agregadores como os mais utilizados -depois do Youtube -pelos brasileiros consumidores de áudio.…”

“…Em paralelo a esse crescimento e a esses perfis de consumo, pesquisadores buscam compreender melhor o fenômeno por meio de observações empíricas e produções-teste que experimentam as mais diversas estruturas textuais dessa linguagem sonora -debates, entrevistas, narrativas, noticiários, entre outros. De acordo com Viana (2023), quando o podcasting surgiu, as discussões acadêmicas que o permeavam eram se o formato se enquadrava ou não numa vertente radiofônica, no entanto, na atualidade, as reflexões giram em torno das suas potencialidades e complexidades narrativas. Acreditamos que são justamente essas potencialidades que permitem uma variedade de organização textual, e que são essas diversas formas que o podcast pode assumir que merecem um olhar mais detalhado neste momento.…”

“…No entanto, para além das características do formato, acreditamos que analisar o conjunto de estruturas utilizadas por essas produções é também a base para entender as dinâmicas e estratégias de investigação em podcasts. No Brasil, os estudos já indicaram que tais produtos vão da espetacularização de produtos do entretenimento (Herschmann & Kischinhevsky, 2008), passam por produções educativas (Chagas & Viana, 2019), por séries criminais (Jáuregui & Viana, 2022a;2022b), pela dramatização no metajornalismo (Viana, 2023) se apresentam como produções seriadas em radiojornalismo narrativo (Kischinhevsky, 2018) e investigativo (Lopez et al, 2018).…”

O podcast de audiodrama em resposta à nova demanda por escuta imersiva

“…Apesar de predominar, no Brasil, podcasts de entrevistas (SILVA; SANTOS, 2020), uma das possibilidades já demarcadas é o uso de técnicas de "contação" de história (storytelling) em obras inclusive do gênero jornalístico, a promover maior envolvimento dos ouvintes com as histórias narradas (VIANA, 2022). Assim, a 3 Pesquisa do instituto Kantar Ibope, por exemplo, mostra que o alcance dos podcasts no Brasil já chegam a 40% da população nos três principais mercados brasileiros (KANTAR IBOPE MEDIA, 2022).…”