A diminuição da regulação normativa das trajectórias de transição para a vida adulta, nas sociedades da modernidade tardia, favoreceu o prolongamento da condição juvenil até ao final da terceira década de vida e a progressiva privatização e flexibilização dos percursos biográficos. As novas características das sociedades pós-industriais levaram à definição de novos conceitos e perspectivas no âmbito da Psicologia do Desenvolvimento, das quais se destaca a teoria da adultez emergente. Neste artigo discute-se a pertinência e a utilidade do conceito de idade adulta emergente enquanto período de desenvolvimento, interpretando-o à luz das dinâmicas de interacção entre agência individual e as condições que configuram a estrutura de oportunidades, para uma melhor compreensão do estatuto dos jovens na sociedade contemporânea. Procura-se, ainda, analisar a aplicabilidade das novas perspectivas de transição para a vida adulta ao contexto português, considerando que este período de exploração e experimentação é vivido pela maioria dos jovens no seio da família de origem, principal fonte de apoio num clima de crescente precariedade. Finalmente, estabelece-se uma comparação com a realidade brasileira, explorando semelhanças e diferenças entre os dois países.
Palavras-chave:Brasil, Idade adulta emergente, Portugal, Transição para a vida adulta.TRANSFORMAÇÕES SOCIOCULTURAIS E O PROLONGAMENTO DA TRANSIÇÃO PARA A VIDA ADULTA O século XX caracterizou-se por transformações económicas e sociais que modificaram irremediavelmente as sociedades ocidentais. Assistiu-se à queda da importância das meta-narrativas inclusivas que davam sentido e significado à vida e que permitiam a construção de um mundo ordenado e previsível, e a uma agudização do processo de individualização da sociedade (Coimbra, 2005). Pode-se afirmar que, a partir dos anos 70 do século XX, existiu uma diminuição da regulação normativa das trajectórias de transição para a vida adulta, associada a uma valorização da autonomia acima da interdependência comunitária e das obrigações sociais (Dougalss, 2007). Como refere Arnett (2006a), há 40 anos um jovem de 22 ou 23 anos esperava tornar-se adulto, assumindo como ponto de referência o casamento, a paternidade e a obtenção de um emprego estável. Actualmente, pela desinstitucionalização dos marcadores sociais que definiam os modos de transição entre as etapas de vida, os indivíduos têm que assumir a responsabilidade de construir significado para a sua trajectória de vida (Bauman, 2001). De acordo com Pais (2001), as transições do jovem no pós-guerra eram como viagens de comboio, em que cada um entrava onde podia (dependendo da classe, género e qualificações), mas o destino já estava pré-definido. Hoje,
301A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Tânia Brandão,