seus descendentes, possamos seguir na busca por uma existência plena neste mundo.Escreveram suas Histórias nas práticas de luta, nos rituais sagrados, nos laços familiares, nos hábitos alimentares, nas manifestações artísticas, nas tecnologias, nas visões de mundo, nos valores, na oralidade, na importância atribuída à palavra, no respeito e no culto aos ancestrais.Escrevivências Baobás é uma dessas flechas lançadas no presente para enfrentar e derrubar a escravidão e o racismo construído no passado, mas que continua nos atormentando, vitimando, massacrando no presente. É uma flecha que nos convida a prosseguir na luta para afirmar nossa Humanidade, valorizar nossas culturas, nossas Histórias, nossas experiências coletivas.Os contos destas Escrevivências são uma demonstração de que as memórias ancestrais seguem vivas e fortes a nos alimentar, são a prova de que as conexões entre os povos originários, sejam do Brasil ou de Moçambique, ou de outra parte qualquer da África, não ficaram esquecidas no passado. As sementes de Baobá que agora se espalham são novas flechas a circular, preservando, criando e recriando vivências, abrindo caminhos para um novo tempo.
Juvenal de Carvalho Conceiçãoiii APRESENTAÇÃO O "Escrevivências Baobás de Contos Ancestrais Indígenas -Africanos -Diaspóricas" reúne trinta e nove textos de autoras e autores, mulheres e homens de idade, nacionalidades, formação e experiências de vida diferentes, ou seja, pessoas de ancestralidades diferentes que representam o verdadeiro Brasil que nasceu do encontro histórico dos povos e culturas diferentes e suas conexões com o mundo, em especial, com o continente africano. Demonstram que todos e todas contribuíram de uma maneira ou de outra na construção do Brasil atual e na formação de sua identidade cultural plural. Em outros termos, os brasileiros e as brasileiras atuais não são somente descendentes dos gregos e romanos, dos latinos e anglo-saxões, através da ancestralidade europeia. Mas são também, descendentes dos povos originários, dos africanos, asiáticos, árabes, judeus e ciganos, povos cujas histórias de suas ancestralidades foram apagadas, por muito tempo, pela educação eurocêntrica dominante. As imagens que se veiculam na historiografia colonial sobre os povos indígenas, considerados como primitivos e, portanto, atrasados, persistem ainda no imaginário coletivo contemporâneo. Também as imagens negativas que foram construídas sobre os negros africanos, para justificar e legitimar a colonização, ainda não foram totalmente descontruídas. Daí a justificativa das leis 10.639/03 e 11.645/08 promulgadas durante o governo do presidente Lula, para construir uma nova cidadania inclusiva, que possa devolver aos povos originários e da diáspora africana no Brasil, a imagem autêntica de suas identidades e a devolução de seus direitos humanos fundamentais, que por muito tempo foram rasgados, no universo racista ancorado no mito de democracia racial.