<p>Este artigo busca trabalhar as narrativas poéticas na zona da mata de Pernambuco enquanto um elemento de<br />discurso, a partir do qual pretendo refletir sobre as formas como a emoção se revela nas práticas cotidianas e<br />na sociabilidade local. Nesse sentido, vou lidar com emoção como um fenômeno essencialmente social, tendo<br />no discurso o lugar de sua análise. O texto tem como base o material etnográfico produzido em “ambientes”<br />de cantoria-de-parede, a partir da minha relação com poetas e moradores dessa região. Partindo da análise de<br />situações atravessadas por elementos de discursos como poemas, glosas e canções improvisadas, os quais são<br />tomados aqui como elementos analíticos privilegiados devido a sua importância e centralidade na dinâmica social,<br />pretendo avançar na reflexão sobre a percepção local de tempo e, simultaneamente, demonstrar como essa noção<br />está intimamente entrelaçada pela experimentação poética que é peculiar a toda essa região. Para tal, vou tentar<br />relacionar o conceito de versura, e o intervalo que lhe é característico, ao conceito de tempo como oscilação de<br />opostos, igualmente marcado por um hiato. O ponto de interseção dessa correlação que guiará a análise sobre a<br />noção nativa de tempo é justamente a profusão de sentidos que emerge nesse intervalo.</p>