Tornou-se uma espécie de clichê notar que a América Latina é de longe a região mais desigual do mundo (cf. Berry, 1998; Cardoso e Helwege, 1992; O'Donnell e Tokman, 1998; Portes e Hoffman, 2003;Rosenthal, 1996;Prados de la Escosura, 2005). O nível de desigualdade encontrado no continente desafia a imaginação, bem como qualquer descrição 1 . Comparações transregionais são sempre difíceis, mas nenhum outro conjunto de países definido por quaisquer critérios categoriais possíveis partilha tais caracterís-ticas distribucionais. A faixa 5% mais alta na escala de renda latino-americana recebe o dobro da porção comparável de suas contrapartes na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), enquanto a faixa mais baixa recebe a metade do que receberia naqueles mesmos países (cf. Portes e Hoffman, 2003).As conseqüências desse sistema distributivo são ainda agravadas pelo fato de que, com algumas exceções significativas, essas sociedades são relativamente pobres 2 . Assim, não apenas os pobres, os mais negros e as mulheres recebem fatias menores, mas o bolo social também não é grande, para início de conversa. A UNDP calcula que mais da metade da população em vários países vive com menos de U$ 2 (dois dólares) por dia. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe das Nações Unidas estima que mais de 200 milhões vivem na pobreza (cf. O'Donnell e Tokman, 1998). O Haiti permanece no pior patamar, com um terço da população com expectativa de vida inferior a 40 anos (cf. Gafar, 1998).