resumo Neste artigo, pretendemos resumir aquela que, acreditamos, ser, nas últimas três ou quatro décadas, a corrente dominante na interpretação da doutrina de Ockham acerca da causalidade. Buscaremos desenvolver três estratégias para criticar essa interpretação, cada uma delas pertencendo a um diferente nível: ontologia e linguagem, em um primeiro momento, física, no segundo, e epistemológica no terceiro. O resultado de nossa exploração é uma visão menos otimista acerca da doutrina causal de Ockham.
palavras-chave Guilherme de Ockham; poderes causais; onipotência divina; nominalismoCostuma-se dizer que um dos traços característicos do projeto filosófico-teológico de Ockham é ter levado às últimas consequências a identificação aristotélica do conhecimento científico com a conclusão do silogismo demonstrativo.Acrescenta-se que seu principal recurso para tornar possível um conhecimento científico do mundo -o qual, aos olhos de um teólogo cristão como ele, é criado e, portanto, contingente -é extrapolar radicalmente a necessidade, desde as coisas (ou, inclusive, desde os conceitos, tomados isoladamente da proposição), às relações predicativas que ocorrem entre os termos da proposição ou entre as proposições, definidas como signos complexos das próprias coisas 1 . Não obstante, no que concerne a sua posição sobre o conhecimento das relações causais no mundo externo, existe uma interpretação dominante que nega firmemente que a doutrina ockhamista da causalidade possa ser considerada cética e, nesse sentido, rejeita toda comparação com a de David Hume