Resumo: Apresentam-se neste artigo alguns comentários sobre as inumações infantis em ânfora na Península Ibérica (sé-culo I a.C. a V/VI d.C.), bem como um estudo preliminar dos textos romanos e cristãos, escritos durante este período sobre este tema, e ainda a evolução desta prática no registo arqueológico. Definiram-se duas grandes fases: na primeira (antes de c 250 d.C.), de formação, surgem alguns casos, e na segunda (depois de c 250 d.C.), assiste-se à multiplicação e dispersão deste ritual na Península Ibérica, coincidindo com a expansão do Cristianismo. Outro objectivo deste trabalho é dar resposta a questões sobre as razões que levaram a esta opção: reflecte a reprodução de sistemas simbólicos? Ou razões pragmáticas?Abstract: This paper presents some commentaries about the infant burials in amphorae in the Iberian Peninsula (1st Century BC-5th Century AD), and a preliminary study of the texts written during this period (both Roman and Christian) about this theme and the evolution of this practice in the Archaeological record. We defined basically two major periods: the first (until c 250 AD), with some cases (formation), and the second (after c 250 AD) with a visible multiplication and dispersion of this ritual along the Iberian Peninsula, almost side-by-side with the expansion of Christianism. Another aim of this paper is to answer some questions about the motivations of this option: it reflects a reproduction of symbolic systems? Or pragmatic reasons? Palavras-chave: Inumações infantis; ânfora; Cristianismo; rituais funerários; época romana. Keywords: Infant burials; amphorae; Christianism; Funerary Rituals, Roman period.
INTRODUÇÃOA morte foi sempre um acontecimento que se manifestou das mais variadas formas nas atitudes dos vivos, motivando uma multiplicidade de disposições funerá-rias. Como algumas das fontes deixam antever, a idade à morte terá sido um dos factores que condicionou estas atitudes, podendo ser o funus socialmente mais, ou menos, ostentado.Entre outros factores, abordados neste trabalho, o registo arqueológico comprova que esta realidade é particularmente variada nos enterramentos infantis. A pluralidade, nestes casos, da localização, da arquitectura, dos ritos e do espólio é verificada quer em Pereira, C. y Albuquerque, P. (2018): "Inumações infantis em ânfora na península ibérica durante a época romana: a prática e o rito", Spal 27.1: 89-118.