Resumo Este artigo apresenta uma interpretação das práticas funerárias e pós-funerárias do sítio arqueológico Toca do Enoque, situado no Parque Nacional Serra das Confusões (Piauí, Brasil). As escavações arqueológicas possibilitaram a descoberta de três sepultamentos no local. Através de uma releitura dos contextos funerários escavados no sítio, foi possível propor a versão presumida dos processos de formação de cada depósito mortuário por meio de uma abordagem tafonômica. Dois sepultamentos eram individuais, o primeiro do tipo primário e não perturbado, enquanto o terceiro apresentou perturbações pós-deposicionais naturais e culturais. Ademais, o segundo sepultamento, uma ‘tumba de uso contínuo’ (ongoing tomb use) continha dez indivíduos e características complexas de formação, uso e reuso do depósito mortuário. As datações indiretas dos sepultamentos situam o uso funerário do abrigo por povos indígenas caçadores-coletores pré-ceramistas durante o Holoceno médio (c. 6.000-5.000 anos antes do presente).