Até ao século XIX, a medicina, tal como outras áreas do conhecimento, assentava essencialmente num saber empírico, resultante da experiência acumulada ao longo das várias gerações. Tinha uma eficiência reduzida no seu objetivo principal, o tratamento das doenças, limitando-se, na maioria das situações, a cuidados paliativos.1 No início do século XX, a medicina começou a tratar e prevenir doenças a um ritmo crescente e com isso adquiriu um papel determinante na vida dos indivíduos e, consequentemente, na sociedade. Uma das consequên-cias mais visíveis desta evolução é o aumento espetacular da esperança de vida, que em Portugal passou de cerca de 50 anos em 1900 para cerca de 80 anos em 2013. Não só a esperança de vida tem aumentado, mas também a qualidade de vida, através da utilização de fár-macos, químicos e dispositivos a que já nos habituámos a considerar como comuns, apesar de não existirem há mais de cerca de 50 anos. Lentes de contacto que proporcionam uma visão clara e nítida estão disponíveis a preços acessíveis. Imagens produzidas por sistemas de ultrassons (ecografia) permitem acompanhar a evolução da gestação dos fetos durante a gravidez. Ancas artificiais permitem aos respetivos recetores caminharem sem qualquer outro auxílio. Testes de gravidez podem ser efetuados nas nossas habitações, sem ser necessá-rio recorrer a instalações clínicas ou hospitalares. Numa fase ainda experimental salientam-se dois casos: braços robóticos comandados pelo cérebro foram implantados num amputado duplo 3 ; e bombas de insulina estão a ser testadas em pacientes com diabetes tipo 1, evitando que a substância seja administrada por injeções. 4 Todos estes sucessos são o resultado de um diálogo contínuo entre a medicina por um lado, e a ciência e a engenharia por outro.50 · GAZETA MÉDICA Nº2 · VOL. 3 · ABRIL/JUNHO 2016