Resumo: As classes sociais são consideradas um conceito sociológico por excelência. Neste artigo, propomos uma avaliação empírica do conceito, motivada por questionamentos contemporâneos que têm sido críticos a análises que recorrem ao conceito de classe como dimensão heuristicamente interessante. Nosso esforço se concentra em uma validação da proposta popularmente conhecida como a tipologia EGP (Erikson-Goldthorpe-Portocarero). Através da utilização de uma técnica estatística, sensível ao padrão dos dados -a análise de classes latentes -, verificamos o padrão de associação da tipologia com aspectos relevantes do mercado de trabalho brasileiro. Como principal resultado que emerge a partir das análises empreendidas, apontamos uma série de restrições à proposta avaliada. Isso indica para a necessidade dos sociólogos e de outros pesquisadores interessados no trabalho com o conceito estarem sensíveis para as particularidades impostas pelo contexto brasileiro que impõe limites não triviais à sua validade empírica.Palavras chave: mercado de trabalho, análise de classe, tipologias ocupacionais, classe social, EGP.Introdução N a literatura contemporânea da área temática da sociologia da estratificação social há um questionamento sobre a relevância do conceito de classe para a compreensão de como se estruturam as desigualdades sociais (Pakulski & Waters, 1996). De forma mais amena, mas igualmente crítica, esse desconforto se manifesta também em propostas que vocalizam fortes críticas a respeito das operacionalizações convencionais do conceito de classe (Grusky & Weeden, 2008). Neste trabalho, desejamos contribuir para o debate a partir do ponto de vista de como o contexto brasileiro fornece insights sobre as potencialidades e limites da discussão.Nossa estratégia argumentativa se apoia na apresentação do que pesquisadores estrangeiros e brasileiros entendem como análise de classe, ou seja, os pontos analíticos em comum que definem o objetivo daqueles que defendem que as classes sociais são uma dimensão fundamental para o entendimento de diversos tipos de desigualdade. Ao delinear os pontos mais salientes dessas abordagens, nos preocuparemos em apontar os principais questionamentos e críticas para, em seguida, apresentar as propostas de operacionalização do conceito para pesquisas empiricamente orientadas. Após uma revisão sistemática dos princípios e críticas levantadas