O processo de luto decorrente de uma perda gestacional tem sido descrito na literatura como uma vivência específica e pouco reconhecida socialmente. Neste estudo buscou-se compreender as repercussões e as particularidades do processo de luto decorrente de uma perda gestacional por meio do estudo de casos múltiplos (Yin, 2005), de caráter qualitativo e transversal, com quatro mães (18 a 29 anos) que vivenciaram ao menos uma perda gestacional nos últimos cinco anos. Foram aplicados os instrumentos: Questionário de Dados Sociodemográficos e Clínicos, Questionário sobre Vivências de Perdas, Prolonged Grief Disorder, Brief Symptom Inventory, além de uma entrevista sobre a vivência de luto materno e a experiência da maternidade atual. A análise dos casos, baseada na perspectiva psicanalítica, permitiu identificar que os procedimentos físicos diante da perda gestacional possibilitaram uma via de inscrição e elaboração psíquica da vivência, contudo esse processo de luto foi permeado por elementos de ordem narcísica e traumática. Sugerem-se investigações na área com mulheres que não tiveram filhos após a perda gestacional.