Em 24 de abril de 1617, chegava ao fim a prodigiosa influência de um casal de italianos sobre a regente da França, Marie de Médicis. Ao articular o assassinato do marquês d’Ancre, marechal da França e figura-chave na condução dos negócios do reino, o delfim Louis XIII garantiu sua ascensão ao trono e o isolamento da rainha-mãe, apoiando-se sobre a distribuição das riquezas do falecido entre seus apoiadores. Restava, contudo, a questão em torno do que fazer com a viúva Léonora Dori, herdeira legítima de Concini. Através da análise das representações da marquesa em folhetos franceses e ingleses, este artigo reconstrói as facetas que lhe foram atribuídas e as visões contrastantes em torno de seu grau de influência na França do início do século XVII. No entrecruzamento entre a História do Impresso, a História das Mulheres e a História das Emoções, este artigo se volta à reflexão sobre a mobilidade dos textos e o impacto dos impressos baratos na constituição de um dado imaginário em torno do feminino e da formação da opinião na França moderna.