A cerveja é muito popular no Brasil, e o país é o terceiro maior consumidor dessa bebida, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Em nível internacional, existem registros de episódios fatais atribuídos à ingestão de bebidas fermentadas (cervejas e vinhos) contendo etilenoglicol e dietilenoglicol desde a década de 1980. No Brasil, um caso recente (2020), que levou a vítimas fatais, foi associado à ingestão de cerveja contaminada com etilenoglicol. Nesse trabalho, foi feita uma mini revisão da literatura a fim de caracterizar o entendimento atual no âmbito da origem e dos riscos afetos à presença de glicóis em bebidas. O levantamento permitiu concluir que efeitos agudos e letais somente podem advir de doses relativamente elevadas provenientes de contaminação exógena (acidental ou criminosa). Contudo, as leveduras Saccharomyces cerevisiae têm potencial para secretar etilenoglicol pela degradação metabólica da xilose, açúcar de cinco carbonos que advém da hemicelulose. Os níveis de formação espontânea são usualmente baixos, sem riscos de toxicidade aguda/fatal, mas há que se considerar o potencial de toxicidade crônica por efeito acumulativo. Propõe-se o monitoramento periódico dos teores de etilenoglicol e dietilenoglicol em cervejas, tendo em vista a relevância dessa bebida entre os hábitos de consumo dos brasileiros.