ResumoO presente trabalho aborda sobre algumas considerações a respeito da subjetividade humana no contexto da pandemia do coronavírus através das contribuições da teoria junguiana, relacionando com o conceito de sombra e o mito de Exu, tratando-se de uma investigação documental, conduzida com base em materiais já produzidos e consolidados, com ênfase em obras literárias e estudos científicos. Percebe-se um aumento significativo de pesquisas com relatos de abuso de substâncias com pessoas acima de 18 anos durante a pandemia no Brasil, sendo o álcool uma das principais. Somado com algumas outras manifestações potencialmente sombrias e prejudiciais à população, como a polarização de ideias, disseminação de fake news e efeitos subjetivos acerca do isolamento social, este trabalho verifica a atuação do arquétipo do trickster com o mito de Exu. Em sua mítica, como dono dos caminhos, nada o escapa. Para quem experiencia pode parecer que Exu traz consigo a discórdia ou até sinais de desastre, mas por trás do conflito ou do que precisa ser evidenciado há também o dinamismo e a fluidez, revelando importante papel para a manutenção da homeostase psíquica. Como um "condutor de almas", pode ser uma valiosa figura a ser compreendida para facilitar a integração de conteúdos sombrios que foram identificados durante a pandemia, em que a ambiguidade se fez, em vários momentos e situações, presente. Ressalta-se que, para a Psicologia Analítica, a leitura simbólica de determinada situação promove uma leitura dinâmica, com vários aspectos a serem considerados, reiterando o caráter intrínseco da cultura nas particularidades da subjetividade humana.Palavras-chave: Exu; Psicologia Analítica; sombra; pandemia; abuso de substâncias.
IntroduçãoA pandemia de COVID-19 foi uma crise global de saúde que começou em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China. Ela foi causada por um novo coronavírus, chamado SARS-CoV-2, que se espalhou rapidamente pelo mundo, resultando em uma pandemia declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020. Entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021, a OMS anuncia que cerca de 14,9 milhões de pessoas em todo o mundo morreram como resultado direto ou indireto da COVID-19.