O diagnóstico médico de abuso sexual em crianças pode ser problemático; qualquer possibilidade de simplificar, fortalecer ou otimizar o processo de avaliação é desejável. Triagem tem sido definida como a identificação presumível de uma doença ou um defeito não reconhecido através da aplicação de testes, exames ou outros procedimentos que possam, de forma ágil, distinguir entre pessoas aparentemente bem mas que provavelmente têm uma doença e aqueles que não têm doença 1 . A triagem ou avaliação de abuso sexual em crianças é potencialmente útil tanto para identificar vítimas em populações pediátri-cas em geral, sem suspeitas anteriores de abuso, como também para fornecer ao pediatra informações adicionais no sentido de direcionar o processo diagnóstico em crianças que apresentam sintomas potenciais de abuso sexual. Um teste de triagem em si não tem o objetivo de ser diagnóstico, e uma força-tarefa estadunidense não encontrou evidências suficientes para recomendar ou desaconselhar a triagem de rotina em pais ou responsáveis no que diz respeito a violência familiar 2 . Na medicina, a triagem tem sido utilizada em muitos estados de doença, e inúmeros instrumentos têm sido disponibilizados para identificar abuso físico, abuso sexual e negligência em crianças [3][4][5][6] . Historicamente, o propósito inicial da triagem era poder distinguir as características de crianças abusadas sexualmente das características de crianças que não sofriam abuso. Testes de triagem já foram administrados a quase todas as pessoas que mantêm contato com a criança: pais, investigadores e as próprias crianças. Um indicador potencial de abuso sexual é o comportamento sexual, que pode ser avaliado através do relatório dos pais utilizando-se itens tais como os da Child Behavior Checklist e do Child Sexual Behavior Inventory 7 . Esses relatórios e suas versões atualizadas podem distinguir probabilisticamente entre o comportamento sexual padrão e o de crianças abusadas sexualmente, mas são menos confiáveis em crianças sob tratamento psiquiátrico ou psicológico. Achados de exame físico podem ser úteis, mas quando resultam normais, não descartam nem reforçam alegações de abuso sexual 8 , uma vez que nem todo abuso sexual deixa evidências físicas identificáveis. Um instrumento de avaliação englobando comportamento, revelação e achados físicos tem sido usado por muitos médi-cos nos Estados Unidos, mas nunca foi pretendido como triagem para uso na população geral 8 . Após a avaliação médica, a comprovação final do abuso depende da confissão dos autores do crime e de decisões dos sistemas legal e de assistência social da criança, que respondem pela determinação final e dão início aos passos necessários para a proteção da criança 9 .Neste número do Jornal de Pediatria, Salvagni & Wagner 10 descrevem o desenvolvimento e a implementação de um questionário de triagem de abuso sexual em crianças que é administrado aos pais durante a avaliação médica de seu filho(a), com idade entre 2 e 12 anos. Este questionário de cinco perguntas avalia os sintomas comport...