INTRODUÇÃOEstimar a prevalência ou a incidência de maus tratos à criança e ao adolescente é um objectivo que tem norteado muitos estudos empíricos, os quais seguiram duas metodologias distintas. Alguns estudos procuraram avaliar, junto de indiví-duos na idade adulta, a presença de história de maus tratos na infância; outros estudos procuraram estimar, através da consulta de registos oficiais ou da observação directa dos sujeitos, o nú-mero de crianças sobre as quais estaria a acontecer uma situação de abuso.No primeiro grupo de estudos, que enverga pela metodologia adoptada na investigação que apresentamos neste artigo, verifica-se que experiências de maus tratos e negligência durante a infância e a adolescência são relatadas por um elevado número de indivíduos na idade adulta.A prevalência de história de abuso físico na infância e adolescência, com base nos relatos na idade adulta, é estimada em 14 a 50% dos sujeitos das amostras recolhidas na comunidade, tendo em conta as amostras e os instrumentos que usam diferentes definições para o abuso (Belt & Abidin, 1996;Browne & Hamilton, 1998;Crouch, Milner, & Caliso, 1995;Eisen & Carlson, 1998; Epps, Carlin, & Ward, 1999;Fish & Scott, 1999;Liem & Boudewyn, 1999;Litty, Kowalski, & Minor, 1996;Milner, Robertson, & Rogers, 1990;Paúl, Milner, & Múgica, 1995;Rosen & Martin, 1996).No que se refere especificamente à história de abuso sexual durante a infância e adolescência, este tipo de abuso tem sido igualmente relatado por um número considerável de indivíduos na 365