A partir de uma perspectiva teórica institucional-construtivista, este artigo visa trazer novas contribuições para o estudo do Mercosul como processo de consolidação de uma comunidade regional, analisando as propostas institucionais e os fundamentos de uma narrativa cultural comum promovidas durante o ciclo progressista da América Latina no século XXI em dois campos políticos associados, embora não usualmente estudados em conjunto: a circulação de pessoas e o patrimônio cultural. A abordagem metodológica é qualitativa, baseada na revisão de artigos acadêmicos e documentos oficiais, consulta a funcionários públicos brasileiros e argentinos e observação direta das reuniões do Mercosul. Nosso argumento é que as políticas de circulação de pessoas e o trabalho da Comissão de Patrimônio Cultural do Mercosul contribuem para consolidar a existência de uma comunidade regional, por meio da construção de um espaço sociocultural comum e do aprofundamento da interdependência cognitiva entre os cidadãos do bloco. Essas esferas de integração devem enfrentar os desafios e constrangimentos inerentes ao intergovernamentalismo e ao modelo moderno de Estado-nação, como a persistência de certos aspectos da dicotomia nacional-estrangeiro; situação a ultrapassar na prossecução da construção da cidadania e da identidade numa chave regional, assente no interesse e envolvimento dos cidadãos no processo de regionalização.