Mesticagens e identidades negras : um olhar a partir da relacao indio - negro

Abstract

RESUMOEste artigo tem por propósito fazer uma discussão sobre o processo de mestiçagem envolvendo índios e negros na região do Sertão da Ressaca, atual Vitória da Conquista e seu entorno, sudoeste da Bahia. Discuto também a formação no tempo contemporâneo de identidades dos descendentes deste contato. Para o primeiro aspecto desta discussão (relação índio-negro) faço uma revisão da bibliogra a existente relativa a história do Sertão da Ressaca sobre o contato entre estes dois grupos, discutindo alguns documentos escritos, tais como o relato do príncipe Maximiliano Wied-Neuwied e outros documentos cartoriais. Já no segundo aspecto (construção de identidades), apresento o ponto da pesquisa em que me encontro, relatando as memórias de um descendente de índios com negros.Palavras-chave: Índios. Negros. Mestiçagem. Identidades. ABSTRACTThis purpose of this article is to discuss the mixture between indigenous and black populations in the Sertão da Ressaca and its surroundings, southwest of Bahia which nowadays is known as Vitória da Conquista. It is also discussed in this article the construction of identities of the descendants of this contact in present times. In the  rst part of the discussion, which refers to the relationship between indigenous and black populations, the existing literature on the history of the Sertão da Ressaca about the contact between these two groups is reviewed. Other documents are discussed, such as prince Maximiliano Wied-Neuwied´s report. In order to develop the second aspect, that is, the construction of identities, I present the current stage of my own research by reporting the memories of an indigenous-black descendant.

Nações, fronteiras e relações étnicas na comunidade indígena-quilombola do Baixão (Vitória da Conquista, BA)

“…Desta forma a escolha dos critérios ou elementos que definem a identidade do grupo são definidas pelos próprios moradores a exemplo, as suas tradições, não só as de origem africana, mas também indígena. Já os primeiros africanos vieram para o sertão baiano se refugiando da escravidão nas comunidades quilombolas, causando grande desconforto e preocupação às autoridades coloniais (Nascimento, 2008a(Nascimento, , 2008b. Em um dos primeiros documentos que trata da ocupação europeia do sertão da Ressaca, Pedro Leolino Mariz, um dos principais responsáveis pela colonização de diversas áreas do interior da Bahia e norte de Minas Gerais, incumbe à bandeira dirigida por André da Rocha Pinto de conquistar as atuais regiões de Rio de Contas e Vitória da Conquista, entre os rios de Contas, Pardo e São Mateus, para que pudessem "[…] encontrar metais preciosos, estabelecer fazendas de gado, matar índios que se opusessem a conquista, estabelecer aldeias e destruir quilombos que fossem encontrados" (Mariz in Torres, 1996, p. 171-172).…”

“…E, não muito distante do trio de Batalha, o quilombo do Baixão também é resultado dessa mestiçagem que ocorreu em Vitória da Conquista. Esse processo ultrapassou os limites biológicos, sendo, sobretudo, cultural, em que há uma predominância de elementos étnicos africanos que se amalgamaram com elementos dos outros grupos (indígenas e europeus) e formando algo novo, mas que preserva as suas raízes (Nascimento, 2008a). E essa etnicidade, resultante dessas relações étnicas, é a motriz das tradições do quilombo, a exemplo, o reisado, as práticas de cura, as ladainhas, a feira, entre outras, em que os moradores reinterpretam e "imaginam" o seu passado histórico enquanto quilombola e produzem outros pertencimentos.…”