RESUMO -A microfluídica é uma ciência e tecnologia que tem se apresentado como uma ferramenta importante na produção de micro e nanoestruturas, a partir do escoamento de pequenas quantidades de fluídos em dispositivos com dimensões bastante reduzidas. Dentre as nanoestruturas que podem ser produzidas, reporta-se na literatura a formação de lipossomas catiônicos através de plataformas de focalização hidrodinâmica, nas quais, a componente lipídica (em etanol) é injetada em um canal central sofrendo focalização lateral pela fase aquosa. O principal objetivo deste trabalho foi produzir lipossomas catiônicos contendo polietilenoglicol (PEG) em dispositivo microfluídico. Para isso, foram investigadas duas estratégias: (1) promovendo a formação de lipossomas com PEG em apenas uma etapa e (2) a partir, da inserção posterior de lipídeo ligado ao PEG em lipossomas pré-formados. Quando produzidos através da primeira estratégia as nanoestruturas apresentaram 150,09 ± 22,14 nm de diâmetro hidrodinâmico médio e +63,00 ± 7,03 mV de potencial zeta. Como modelo padrão, realizou-se um estudo comparativo com métodos convencionais de produção (bulk), envolvendo a técnica de ultrassonicação. Nesse contexto, este trabalho visou contribuir com o desenvolvimento de processos microfluídicos de produção de lipossomas para aplicação em sistemas de liberação controlada de genes e fármacos.
INTRODUÇÃOA terapia gênica é uma estratégia terapêutica que atua a partir da introdução de material genético às células-alvo, visando correção ou inativação dos genes responsáveis por uma patologia. Entretanto, devido ao tamanho, caráter aniônico e instabilidade química do material genético frente aos fluídos celulares, sua interiorização no núcleo celular (transfecção) é dificultada (Corsi et al., 2003).A fim de aumentar a taxa de transfecção in vitro e in vivo, diversos sistemas de entrega controlada de ácidos nucleicos tem sido estudados. Dos quais, destacam-se os lipossomas catiônicos, cujas estruturas são aproximadamente esféricas e formadas a partir da autoagregação de lipídeos anfifílicos em lamelas. Devido ao seu caráter catiônico, esses lipossomas podem interagir eletrostaticamente com material genético (carregado negativamente), formando lipoplexos que apresentam aptidão para adentrar as células, em consequência da interação eletrostática dos lipoplexos com a membrana celular aniônica (Azzazy, Mansour e Kazmierczak, 2006). Além do caráter catiônico, os lipossomas em questão apresentam boa compatibilidade e facilidade de modificação química de sua superfície, o que permite a produção de lipossomas