Resumo Esta pesquisa se propôs em apreender a gestão ordinária das práticas cotidianas, a partir das memórias contadas e vividas pelas lideranças da Comunidade Quilombola “Invernada Paiol de Telha - Fundão”, desta comunidade antes do processo expulsão (ocorrido em 1974) deste território. Os processos de gestão no cotidiano do homem comum não são formatados a partir de conhecimentos acadêmicos, mas sim, são desenvolvidos de uma forma particular, a partir de suas vivências e do contexto em que vivem. Adotamos a metodologia qualitativa por meio da inserção nesta comunidade e trabalhamos com fontes orais e escritas centradas na história oral. Os resultados apontaram que “o Fundão” estabeleceu um vínculo de convivências por meio da produção de memórias transformando o espaço em lugar simbólico, nos permitindo entender este cotidiano como um espaço de possibilidades que adotam no verbo “gerir” à vinculação de um “saber-fazer”. Pode-se apreender que as práticas (antes da expulsão) vieram repletas de atividades que indicavam o repertório pessoal e coletivo destes moradores no seu cotidiano e na essência de sua gestão. Práticas de moradia, alimentação e subsistência num primeiro momento, e práticas de solidariedade, fé e lazer num segundo momento. Ao rememorarem estas práticas cotidianas, as lideranças-anciãs “deram voz” a uma territorialidade ancestral. Esta territorialidade, acentuou a perspectiva do território como sendo um espaço das experiências vividas, no qual as relações entre os moradores do Fundão e destes com a natureza (física e social), centravam-se em relações permeadas pelos sentimentos e pelos simbolismos atribuídos aos lugares.