É por oposição à noção de representação que se define geralmente a enunciação. Nossos enunciados ao mesmo tempo representariam o mundo e comunicariam a atitude do locutor em relação a essa representação: este último poderia avaliar em termos de verdadeiro e de falso (Frege), declará-la desejável, ameaçadora (Bally), utilizá-la para ordenar, prometer, pressupor (Austin), ou ainda dá-la como o pensamento de outro (Bally). Ducrot, sabe-se, opôs-se a essa separação e, muito particularmente, à hipótese de que se poderia isolar, no interior do sentido de um enunciado, uma representação do mundo totalmente desvencilhada, limpa, de apreciações do locutor (ver, por exemplo, Ducrot (1993)). A Teoria da Argumentação na Língua, depois a Teoria dos Blocos Semânticos (TBS) foram construídas para dar um sentido positivo a essa rejeição de Ducrot. Assim, segundo a TBS, os conteúdos de nossos enunciados são assimiláveis a encadeamentos argumentativos.