Trato neste texto dos aconselhamentos kaingang, falas proferidas por pessoas detentoras do que concebem como “conhecimento dos antigos”. Para isso, trago descrições etnográficas que articulam aspectos de moralidade, de parentesco e aliança, bem como aspectos ligados à ação da liderança entre os Kaingang da T.I. Rio da Várzea (RS). Minha experiência nesta localidade levou-me a perceber que o “casar bem” – forma ideal de aliança matrimonial, que segue a exogamia de metades e o devido distanciamento genealógico – só ocorre com a presença e a performance de conselheiros na cerimônia de casamento. A eficácia plena das punições locais, por sua vez, dirigidas àqueles que infringem as “leis internas”, é da mesma forma atribuída aos aconselhamentos. Destaco também o fato de que as falas formalizadas (aconselhamentos e falas de chefe) ligam-se a formas bastante específicas de conhecimento; são reflexões sobre modos de ser kanhgág pé, revelando-se, portanto, como falas da diferença.