Resumo: Este artigo trata da história recente da pesquisa arqueológica, no campo interdisciplinar de pesquisas sobre os povos Jê Meridionais. Trata-se também de uma reflexão sobre o impacto da teoria do degeneracionismo nos fundamentos da arqueologia praticada na região sul do Brasil e sobre as possibilidades de novos temas de investigação sobre os povos Jê Meridionais.Palavras-chave: Jê Meridionais; Arqueologia; Antropologia; Interdisciplinaridade; História da Ciência. N as primeiras décadas do século XX a arqueologia no continente americano tratou das histórias indígenas do período do contato colonial, estudando principalmente, os sítios que evidenciavam o encontro entre povos indígenas e colonizadores europeus. Procurava-se entender como foram as relações entre esses diferentes coletivos humanos e, na maioria das vezes, os povos indígenas eram considerados vítimas do colonialismo. Em vista desta perspectiva, aos encontros coloniais foram atribuídos, por um lado, o desaparecimento de alguns povos indígenas e, por outro, as perdas culturais e a aculturação daqueles que sobreviveram (Lightfoot 1995; Funari, Hall & Jones 1999;Rubertone 2000).No entanto, com o advento da arqueologia do colonialismo e da arqueologia histórica indígena, na segunda metade do século XX, e a incorporação de novos aportes teóricos, o estudo das histórias indígenas americanas, dentre vários temas, vem sendo direcionado para o entendimento da complexidade e da brutalidade das experiências vividas por esses povos frente ao colonialismo. Várias investigações foram desenvolvidas para mostrar: 1) a pluralidade e as especificidades históricas e locais do colonialismo; 2) as estratégias de interação e de resistência dos povos indígenas ao longo deste processo caracterizado por tentativas de dominação econômica e social (p. ex. Silliman 2001Silliman , 2005Silliman , 2009Oliver 2010). Ao se debruçar nas questões relacionadas à expansão mercantilista e aos projetos colonialistas europeus, a arqueologia procura compreender a dialética entre os diferentes mecanismos de dominação europeia e resistência indígena que atuaram neste período e as consequências disso, até os dias de hoje, no que se refere à expansão do capitalismo e ao neo-colonialismo (Funari, Hall & Jones 1999).