Ao analisar o De Virginibus e o De Viduis, tratados ascéticos escritos por Ambrósio, bispo da Sé de Milão (374-397), este estudo busca compreender não apenas como os corpos das virgens, viúvas e casadas foram representados, mas também averiguar a formação de uma hierarquia feminina dentro da comunidade milanesa. Considerando a posição paradoxal das mulheres no contexto dos discursos morais produzidos pela elite episcopal do século IV, nos quais, por um lado, possuíam certa paridade com os homens, ao menos no plano espiritual, e, por outro, no plano terreno, apresentavam uma infirmitas associada a sua natureza sexual, essa hierarquia se mostra responsável por prever que as virgens e viúvas, mulheres que superaram a debilidade de seus corpos e tornaram-se modelos da castidade cristã, ocupassem uma posição acima das casadas.