“…O contexto de vida em que enraíza o paradigma de imaginação da Europa mais expressivo -a Europa como terra prometida -e no qual cresce o desejo de uma experiência migratória transatlântica é o mesmo contexto que impõe sérios constrangimentos, desde logo materiais, à concretização daquilo que se imagina e ambiciona. É, justamente, na tentativa de ultrapassar estes constrangimentos que muitas mulheres em Ponta Negra, no quadro das suas relações passionais transnacionais, seguem determinados procedimentos micropolíticos de intimidade (Sacramento, 2017) que lhes permitem, com alguma frequência, assegurar condições para a realização de algumas das suas expectativas. Embora não haja, necessariamente, uma instrumentalização estrita da intimidade, os turistas europeus com quem se relacionam são fundamentais na construção dos seus projetos migratórios, assumindo um papel determinante na organização e no financiamento da deslocação para a Europa (Sacramento, 2016): ajudam em procedimentos burocráticos, compram o bilhete de avião, por vezes adiantam dinheiro para a aquisição de bens para a viagem (v.g., roupas, malas), tratam da instalação à chegada e asseguram o pagamento de despesas.…”