R ecentemente, foram apresentadas as recomendações do Departamento de Neuroendocrinologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o diagnóstico e tratamento da acromegalia no Brasil (1). Os comentários a seguir visam contribuir especificamente em relação ao diagnóstico laboratorial.Embora nas recomendações seja ressaltado que "não existe uma faixa de normalidade para o GH basal que diferencie indivíduos normais daqueles com acromegalia", reconhece-se que, em pacientes com IGF-1 indubitavelmente elevado, o valor do GH basal pode definir o diagnóstico, dispensando o teste de supressão com sobrecarga oral de glicose [Quadro 1 (1)]. Conclui-se, portanto, que existe um valor de GH basal acima do qual, combinado com IGF-1 indubitavelmente alto, seja possível identificar pacientes acromegálicos. Com base nos resultados do GH basal (Immulite) obtidos em adultos saudáveis, os limites de 5 µg/L para homens e 10 µg/L para mulheres parecem razoáveis, pois valores acima desses raramente são vistos em indivíduos normais, especialmente pela manhã, quando picos de secreção de GH em adultos são excepcionais (2). Em relação ao IGF-1 sérico, tivemos a oportunidade de analisar adultos (exceto gestantes) que exibiam níveis persistentemente acima do limite superior da normalidade (LSN) para idade, mas sem acromegalia e com adequada supressão do GH. Foram 25 indivíduos saudáveis (3), 50 pacientes com diabetes ou intolerância à glicose (4) e 15 com hipertireoidismo não tratado (informação não publicada), com valores repetidamente elevados de IGF-1 na ausência de acromegalia (falso-positivo). Em todos, exceto dois, os valores de IGF-1 foram abaixo de 1,5 vez o LSN. Assim, como forma de melhor definir o que nas recomendações é chamado de valores "indubitavelmente" elevados (1), os limites de 5 µg/L em homens e 10 µg/L em mulheres para o GH basal e 1,5 vez o LSN para o IGF-1 sérico em adultos (exceto gestantes) são interessantes. A combinação de valores acima desses limites estabeleceria o diagnóstico de acromegalia, sem necessidade da supressão com glicose oral.Pelas recomendações (1), pacientes com GH basal > 0,4 µg/L e/ou IGF-1 elevado, exceto se ambos indubitavelmente alterados, devem ser submetidos ao teste de supressão [Figura 1 (1)]. Considerando que o objetivo do teste é suprimir o GH e não explorar a resposta paradoxal eventualmente presente em alguns casos de acromegalia, é difícil justificá-lo quando o nível de GH em condições basais já se encontra inferior ao que se espera após supressão. Se o objetivo do teste é suprimir o GH para < 0,4 µg/L, é pouco razoável realizá-lo em pacientes que já apresentam GH < 0,4 µg/L em condições basais. Assim, ainda que acromegalia seja possível em pacientes com IGF-1 elevado e GH basal < 0,4 µg/L, não seria o teste de supressão auxiliar nessa definição.Outro aspecto que merece reflexão é a recomendação de que pacientes com GH basal > 0,4 µg/L, a despeito do IGF-1 normal, sejam submetidos à supressão do GH (1).