O presente trabalho volta-se para o debate contemporâneo sobre a chamada ‘ideologia de gênero’, analisando, por meio de uma revisão bibliográfica, o processo de incorporação desse debate pelas chamadas ‘novas direitas’ no contexto brasileiro a partir de 2013. No bojo das transformações políticas ocorridas nesse período, destacam-se o impeachment contra Dilma Rousseff, em 2016, e a posterior eleição de Jair Bolsonaro, em 2018. O chamado ‘combate à ideologia de gênero’ ganha ainda mais visibilidade no campo educacional, com destaque para a atuação do movimento Escola sem Partido, fundado em 2004. Popularizam-se no Brasil projetos de leis inspirados nesse movimento que objetivam limitar a autonomia docente, estimulando também o contínuo processo de vigilância desses profissionais, especialmente no que diz respeito às discussões sobre gênero e sexualidade. Constatamos que, nesse contexto, os professores de ciências humanas e sociais são especialmente impactados por essas ações, na medida em que os estudos de gênero são constitutivos de seus campos disciplinares. Observamos, ainda, que o principal mecanismo desses movimentos é negar o caráter científico dos estudos de gênero, indicando que eles abarcam algo que deve ser do âmbito privado, e, portanto, ensinado pela família e não pela escola. Argumentamos, no entanto, que esse debate deve ser trazido para o centro da prática pedagógica, considerando sua relevância social e científica.