Recebido: 16mar15Aceito: 24ago15 Publicado: 31jan16Editado por Vítor Lopes-dos-Santos e revisado por Sergio A. MotaRolim e revisor anônimoResumo. Com o avanço das neurociências desde a década de 1990 -considerada a década do cérebro -informações sobre o cérebro e o comportamento têm sido alvo dos holofotes midiáticos, provavelmente em resposta ao interesse da população em geral no assunto. Dentre estas informações, há diversos neuromitos, ou seja, concepções erradas sobre o funcionamento cerebral e o comportamento. Os neuromitos são transmitidos e perpetuados em diversos fóruns, incluindo o campo educacional, o qual pode empregar conceitos equivocados com consequências potencialmente contraproducentes para a sociedade. No presente ensaio, apresentaremos inicialmente alguns exemplos de como informações que teoricamente são baseadas em neurociência -mas que na verdade não são -influenciam os programas que visam melhorar a educação. Por fim, discutiremos também o papel do jornalismo científico, dos neurocientistas e dos educadores no desenvolvimento de uma educação baseada em evidências científicas, concluindo que é necessária uma ampla comunicação entre as classes para que essa seja possível.
Palavras-chave. Neuromitos; neurociência; jornalismo científico; mitos científicos; educação.Abstract. Since the 1990s, considered the brain decade, there have been major breakthroughs in neuroscience, and information about neuroscience has been under the media spotlight, probably due to the interest from the general public on this subject. Among this information there are various neuromyths, which are misconceptions regarding scientific findings about brain functioning and behavior. These neuromyths are transmitted and perpetuated in various forums, such as in the educational field, which can use flawed concepts with potentially harmful consequences for society. In this paper we will initially present some examples of how information that is supposedly based on neuroscience findings -but that is actually not so -influences programs that aim to improve education. Our discussion will also tap on the role of science journalists, neuroscientists and educators in the development of evidence-based education, concluding that a better dialogue between these professionals is necessary.Keywords. Neuromyths; neuroscience; science journalism; scientific myths; education.*Contato: robertaekuni@uenp.edu.br
IntroduçãoNeuromitos são informações erradas sobre o cérebro (OECD, 2002) que advêm de interpretações exageradas, ou equivocadas sobre achados das pesquisas em neurociência (Dekker et al., 2012). De acordo com Pasquinelli (2012), os neuromitos tornaram-se mais comuns após a neurociência ter ficado mais evidente na mídia durante a década de 1990, conhecida como a década do cérebro, em resposta a um crescente "apetite por neurociência", batizado de "neurofilia". Esta apetência é observada ainda hoje, como atestam encéfalos estampados em capas de revistas (exemplo, Época, Veja, Scientific American), manchetes de notícias sobre neurociência...