RESUMO: O ceco móvel é uma variação anatômica embriológica do ceco e cólon ascendente resultante da descida incompleta desses segmentos do intestino grosso e da não fixação no peritônio da goteira parieto-cólica direita. A falta dessa fusão permite movimentação do ceco e/ou do cólon ascendente, facilitando a torção sobre seu eixo longitudinal ou a dobra medial do ceco sobre si, ficando encostado com sua borda medial à borda medial do cólon ascendente. Esse fato causa sintomas intermitentes de obstrução parcial do intestino ou, no caso de torção completa (volvo), de obstrução aguda com possível necrose do segmento envolvido. A anormalidade embriológica tem alta incidência (10 a 30% na população), contudo só tem sido mencionada por ocasião da torção completa, inadequadamente denominada de volvo do ceco-ascendente, em geral com necrose cecal. Dessa forma, a ocorrência não é das mais comuns e está citada entre as causas de obstrução intestinal aguda, perfazendo, nos adultos e nas crianças, menos do que 2% de todos os casos de obstruções intestinais, mas com a importância de destaque por causa do alto índice de morbi-mortalidade entre os pacientes afetados. O objetivo foi apresentar o ceco móvel como causa de dor abdominal intermitente, distensão, empachamento e cólica de origens obscuras em pessoas de aparência saudável, mas com uma longa história de distúrbios gastrintestinais funcionais, associados à constipação e/ou diarréia, portanto, com um quadro sintomatológico sobreponível ao da síndrome do cólon irritável. Além disso, propomos um marcador anatômico para a síndrome do cólon irritável, seja o subtipo com constipação predominante, seja o da diarréia predominante ou a forma em que há alternância entre constipação e diarréia e a possibilidade de alívio daqueles sintomas com a cecopexia.Descritores: Desordens gastrintestinais funcionais, síndrome do ceco móvel, síndrome do cólon irritável, adultos, crianças, constipação intestinal, diarréia, distensão abdominal, dor abdominal, cecopexia. Thompson 1 , num editorial no "Gastroenterology" (2006), introduziu o seguinte comentário: "O diagnós-tico médico tradicional de uma moléstia exige observações de anomalias anatômicas e fisiológicas", formando um conjunto que se expressa por sinais e sintomas, de tal modo que "o médico pode, com bases nesses dados clínicos, prognosticar a respeito das alterações anatomopatológicas do órgão envolvido" e exercitar a medicina baseada em evidências.Isso não é o que ocorre quando estamos diante das doenças gastrintestinais funcionais. Essas doenças são caracterizadas pela ausência de alterações anatômicas ou morfológicas demonstráveis e de qualquer dado laboratorialmente mensurável que possam representá-las ou definí-las. Assim, o diagnóstico é elaborado pelo que expressam os pacientes na tentativa de descrever um quadro sintomatológico subjetivo de sensações "interoceptivas" transmitidas por vias neurovegetativas a núcleos centrais subcorticais.O subjetivismo e a falta de demonstração prá-tica de um substrato anatomopatológico ou de ...