Fundamento: A cardiopatia chagásica crônica (CCC) apresenta-se como insuficiência cardíaca, eventos tromboembólicos e morte súbita cardíaca (MSC). Embora a MSC possa ser o primeiro evento, ainda não há recomendação para o implante precoce de cardioversor-desfibrilador nas diretrizes atuais.
Objetivo: Avaliar a correlação entre denervação autonômica, hipoperfusão miocárdica, fibrose e as arritmias ventriculares em pacientes nas fases iniciais da CCC.
Métodos: Estudo transversal com 29 pacientes com CCC e função ventricular esquerda preservada submetidos a tomografia computadorizada (TC) por emissão de fótons únicos (SPECT) com iodo-123-metaiodobenzilguanidina (MIBG), SPECT de perfusão miocárdica com tecnécio-99m sestamibi (MIBI) e ressonância magnética cardíaca (RMC) com gadolínio, divididos em dois grupos: grupo arrítmico: ≥ 6 extrassístoles ventriculares/hora e/ou taquicardia ventricular não sustentada (n = 15), e grupo não arrítmico: < 6 extrassístoles ventriculares/hora, sem taquicardia ventricular (n = 14) no Holter 24h.
Resultados: Foram observadas correlações significativas entre os parâmetros das três modalidades de imagem cardiovascular com a presença de arritmia ventricular. A denervação pelo MIBG se correlacionou moderadamente com fibrose difusa, representada pelo volume extracelular (ECV) na RMC (r = 0,55; p = 0,002). A hipoperfusão pelo MIBI SPECT se correlacionou com fibrose por ambas as técnicas: realce tardio de gadolínio (RTG) (r = 0,66; p = 0,005) e ECV (r = 0,56; p = 0,002). Também observamos uma correlação moderada entre a extensão das áreas miocárdicas com denervação e hipoperfusão (r = 0,48; p = 0,007).
Conclusão: A presença de denervação autonômica, hipoperfusão miocárdica e fibrose foram associadas à arritmia ventricular nos estágios iniciais da CCC. A combinação desses parâmetros pode incrementar a estratificação do risco para MSC nesses pacientes.