RESUMO -Racional -A peritonite bacteriana espontânea é uma complicação grave nos pacientes cirróticos com ascite, sendo as alterações das características microbiológicas relatadas nos últimos anos de impacto na escolha do tratamento antibiótico. Objetivo -Avaliar as mudanças na epidemiologia e na resistência antibiótica de bactérias causadoras de peritonite bacteriana espontânea em um período de 7 anos. ), E. coli em 7 (15,55%) e K. pneumoniae em 3 (6,66%). Nenhum paciente realizava profilaxia para peritonite bacteriana espontânea. A prevalência de S. aureus meticilino-resistentes aumentou, no decorrer desse período, de 25% para 75%, tendo a resistência desse patógeno às quinolonas e a sulfametoxazol-trimetoprim evoluído de 25% para 50%; somente a vancomicina demonstrou atividade absoluta no decorrer do referido período. Da mesma forma, a prevalência de E. coli resistente às cefalosporinas de terceira geração e às quinolonas aumentou de 0% para 16%. Conclusão -Houve modificação da população bacteriana causadora de peritonite bacteriana espontânea, com freqüência aumentada de microorganismos gram-positivos, bem como houve aumento da resistência aos antibióticos tradicionalmente utilizados. O estudo sugere a provável iminente inclusão de droga eficaz contra gram-positivos no tratamento empírico da peritonite bacteriana espontânea. DESCRITORES -Peritonite. Infecções bacterianas. Cirrose hepática. Ascite.
INTRODUÇÃOA peritonite bacteriana espontânea (PBE) é definida como a infecção do líquido de ascite em pacientes com cirrose, na ausência de foco abdominal aparente de infecção (8) . Provavelmente se origina da passagem de bactérias do lúmen intestinal para a circulação sistêmica e, então, para o líquido de ascite (10) . A colonização do mesmo durante episódios de bacteremia é, atualmente, hipótese também aceita para a patogênese da PBE (4) .Sua prevalência em pacientes cirróticos com ascite, por ocasião da admissão hospitalar, varia entre 10% e 30% (4) . Já o risco de desenvolvimento de PBE durante a internação varia de 20% a 60% (5) , sendo a mortalidade de 20% a 40%. Falha no tratamento ocorre em 10%, acarretando mau prognóstico, com mortalidade hospitalar de 50% a 80% (9) . A probabilidade de recurrência de PBE é de 43% em 6 meses, sendo que a sobrevida em 2 anos após o desenvolvimento da mesma é de apenas 50% (8) .Em relação ao diagnóstico microbiológico, a cultura do líquido de ascite mostra-se negativa em mais de 60% dos casos, quando do uso de técnicas convencionais, mesmo na presença de manifestações clínicas sugestivas. O emprego de frascos de hemocultura para inoculação do material coletado possibilita aumento para até 90% na chance de obter cultura positiva (9) .Mais de 60% dos episódios de PBE são causados por bactérias gram-negativas entéricas. Os germes mais comuns isolados são Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae. Os germes gram-positivos estão presentes em 25% dos episódios de PBE, sendo as espécies estreptocócicas as mais freqüentemente isoladas (11) . Entretanto, durante a última década, consi...