Um desafio antigo, mas que vem ganhando novos contornos na prática antropológica contemporânea diz respeito à problematização das bases conceituais em que se assentam as formas do conhecer antropológico. A crítica a modelos dicotômicos fundamentados em premissas coletivizantes versus individualizantes (que, no limite, assentam-se na ruptura entre linguagem e mundo) vem redefinindo o estatuto dos conceitos no âmbito das ciências sociais. Como sugere Strathern (2006), o conhecimento adquire novos contornos, perseguindo não exatamente uma aproximação com o mundo nos moldes do modelo tecnológico de conhecimento cumulativo, mas sim novas possibilidades de experimentação das condições do pensamento.As proposições que vêm sendo feitas sugerem um deslocamento das metáforas representacionais para uma pragmática das ontologias ou modos de ser no mundo, levando-nos a uma postura bem mais "cautelosa" diante das nossas possibilidades compreensivas do que costumamos chamar de "alteridades". Nossas estratégias (teóricas e metodológicas) de lidarmos com a diferença e a alteridade -centrais na antropologia -passam por experimentos que procuram desafiar os limites das nossas alegorias delineadas na proeminência da substância por contraste com a relação. Perseguindo essas possibilidades, outras percepções da diversidade podem ser aventadas, assim como da "relação", atualizando as diferenças em formas intensiva e extensiva, enviando sempre a formas distintas(assimétricas) de construir diferenças (Viveiros de Castro 2007).1 Nesta perspectiva, não há "entidades" a priori, nem "relação" como consequência, nem totalidades sistemáticas ou tipológicas: há relações que fazem fazer, ou seja, não relações entre unidades que constroem semelhanças ou oposições, mas "devires" como pontos de fuga possíveis.Mas como podemos empreender traduções conceituais das experiências em sua diferença e alteridade por meio, ao mesmo tempo, dos nossos e de novos conceitos? Seria necessário não mais pensarmos em termos dos nossos