A privação das liberdades limita as escolhas e as oportunidades das pessoas, segundo Amartya Sen. Assim, a eliminação dessas privações constitui o meio de garantir o exercício do papel de agente dos indivíduos, tornando a liberdade o principal fim do desenvolvimento. A liberdade, nessa concepção, está condicionada à melhoria da alimentação, à atuação política e ao acesso à saúde, à educação e ao saneamento. Desse modo, este artigo objetivou investigar que liberdades são potencializadas, ou limitadas, com a instalação de empreendimentos eólicos e de carcinicultura em uma comunidade tradicional, quilombola e pesqueira, situada no nordeste brasileiro: a Comunidade do Cumbe/CE. Por meio de dois fieldworks e entrevistas com residentes, foram observadas restrições às liberdades comunitárias. Além disso, foram relatadas privatizações de espaços de subsistência, negligência aos aspectos de saneamento e implicação de riscos à saúde da comunidade. Destaca-se, ainda, a repressão às liberdades políticas, ilustrada em episódios nos quais a população foi coagida, intimidada e criminalizada devido ao enfrentamento das injustiças ambientais ocasionadas pelos empreendimentos. Mostra-se necessário, portanto, problematizar o tipo de desenvolvimento levado a tais comunidades, tendo em vista que este pode ilustrar o progresso econômico de grupos empresariais em detrimento dos modos de vida tradicionais, subalternizando-os e os tornando invisíveis, tal como foi diagnosticado na Comunidade do Cumbe.